Infertilidade é tema de audiência pública na Câmara de Curitiba

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que aproximadamente 15% dos casais em idade reprodutiva enfrentam dificuldades para engravidar. Apesar da relevância, o tema ainda é cercado por desinformação, estigmas e barreiras emocionais, o que contribui para o sofrimento silencioso de milhões de pessoas. Pensando nesse cenário, a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) promoveu uma audiência pública, neste mês de junho – mês da fertilidade – com a presença de especialistas no tema. A iniciativa partiu do vereador Renan Ceschin (Pode)

“Um tema que exige diálogo e um maior estudo para que possamos promover políticas públicas efetivas e que ampliem o acesso à informação e a sensibilidade da população sobre o tema, que é tão importante e delicado“, discursou Ceschin. O debate aconteceu na última segunda-feira (2) com o foco em promover a conscientização, desmistificar tabus e discutir caminhos para o fortalecimento de políticas públicas (407.00025.2025). 

Além de Renan Ceschin, os parlamentares Bruno Rossi (Agir) e Indiara Barbosa (Novo), especialistas e convidados compuseram a mesa para a discussão, são eles: Álvaro Ceschin, ginecologista obstetra, especialista em reprodução assistida, presidente da SBRA e fundador do Instituto Feliccità; Angela Leite, médica ginecologista obstetra; Gilberto Almodin, médico ginecologista, mestre e doutor em obstetrícia pela Unifesp, diretor da Materbaby - Reprodução Humana e Genética; Joliane do Prado, psicóloga clínica e da saúde, com atuação em saúde mental e reprodução humana; e Nathan Ichikawa Ceschin, ginecologista obstetra com especialização em reprodução assistida pelo Instituto Valenciano de Infertilidade.

Especialistas trazem dados sobre o aumento da infertilidade

Na abertura da discussão, a vereadora Indiara Barbosa expressou a importância de debater o tema, principalmente para trazer mais informações às mulheres que sofrem com a infertilidade. “Agradeço muito pelo convite de estar participando junto da audiência com vocês. Eu falei para o Renan: 'Ah, importante as mulheres também participarem, as vereadoras, né?' Hoje nós temos, nesta legislatura, um número recorde de mulheres vereadoras, são 12 vereadoras. Então, é um tema que está muito relacionado a nós. Entendo que é um tema muito importante, também me coloco à disposição depois para pensar em políticas públicas”, concluiu. O vereador Bruno Rossi, também colocou  seu gabinete à disposição para que as políticas públicas em conjunto com os demais vereadores acontecessem de forma efetiva. 

Com o conhecimento do funcionamento da atenção básica e dos esforços dos profissionais que acabam tendo limitações para ajudar quem busca formar uma família e encontra pelo caminho a dificuldade de não conseguir, Álvaro Ceschin trouxe dados sobre a taxa de infertilidade no país. “Segundo a Organização Mundial de Saúde, uma em cada seis pessoas no mundo passa por infertilidade ao longo da vida reprodutiva. No Brasil, aproximadamente 17,5% dos homens e mulheres enfrentam esse desafio. No entanto, quantas campanhas públicas falam sobre isso? Quantas escolas abordam isso no seu tema de educação sexual? Quantas unidades básicas de saúde estão preparadas para orientar um casal com dificuldade em engravidar? A verdade é que existe um silêncio histórico em torno da infertilidade. Um silêncio que gera culpa, frustração, preconceito e principalmente desinformação”, completou o médico.

Trazendo dados sobre a taxa de natalidade, Carlos Gilberto Almodin refletiu sobre os riscos da queda nas taxas de natalidade à população mundial. “Para vocês terem ideia, para que uma população consiga se manter, é preciso que haja uma taxa de natalidade 2.1 bebês por casal. Esse é o ponto mínimo, tá? A Lancet, que é uma revista inglesa de credibilidade, fez um estudo muito grande durante vários anos e ela mostrou que somente seis países terão essa condição neste momento”, disse. Além disso, o médico complementou com a ideia de que é preciso avaliar de maneira sistemática a estrutura da saúde pública para chegar a uma solução efetiva a todos os cidadãos.

Para Nathan Ceschin, é necessário identificar as pessoas que têm problemas de infertilidade. “Por definição, nós temos que começar a nos preocupar um pouco quando aquele casal, cuja mulher está com a idade de até 35 anos e a tentativa superou um ano de tentativas de ter filhos, logicamente com relações programadas. Um paciente com esta condição não precisaria esperar tanto tempo assim para engravidar, salvo em alguns poucos sinais, como endometriose prévia, cirurgia ovariana ou alguns contextos que já corroboram com o diagnóstico precoce da infertilidade”, explicou. Ele também falou da importância dos exames de rotina para conseguir detectar a tempo a infertilidade.

Cuidado mental das famílias que enfrentam a infertilidade também é discutido

Além dos problemas fisiológicos, as famílias também enfrentam problemas psicológicos quando estão enfrentando o processo da gravidez. Para a psicóloga Joliane do Prado, é preciso olhar os aspectos emocionais envolvidos nesse tema, além da condição médica. “A infertilidade, ela traz dores emocionais profundas que afetam a identidade, os vínculos e o sentido de futuro de quem as vivencia. É um luto da paternidade, da maternidade idealizada. E quando esse processo não acontece, quando surge esse luto, pode vir a desencadear junto a depressão, a ansiedade, a baixa autoestima, a baixa autoconfiança e, inclusive, impactar no relacionamento conjugal, na qualidade dessa relação”, disse.

Complementando esse cenário, Angela Mendes trouxe a visão das mulheres que acabam não tendo condições de ter filhos. “O que mais chama atenção para nós são as mulheres que não podem ter filhos, né? Muitas mulheres com comorbidades, a gente tem trabalhado bastante com esses casos, são pacientes também em grande situação de vulnerabilidade social e emocional. É preciso olhar com cuidado e carinho para essas mulheres”, concluiu.

Ao longo do debate, perguntas sobre a fisiologia da infertilidade, questões sobre as mudanças culturais dos valores sociais e constrangimento familiar por não conseguir engravidar foram levantadas e respondidas pelos especialistas presentes. Na questão do encaminhamento das pautas da audiência pública, o vereador Renan Ceschin sinalizou o comprometimento em atender todas as demandas trazidas no debate público.

Clique na imagem abaixo para ver todas as fotos da audiência pública. 

Quando são realizadas as audiências públicas da CMC?

As audiências e reuniões públicas da Câmara Municipal de Curitiba são propostas por vereadores por meio de requerimento aprovado em plenário. Elas têm o objetivo de instruir matérias legislativas ou discutir temas de interesse público. Se forem realizadas fora da Câmara, a liberação de servidores depende da Comissão Executiva. No caso das comissões, a realização dessas atividades é deliberada pelo colegiado. Já as audiências sobre as Diretrizes Orçamentárias (LDO), Orçamento Anual (LOA), Plano Plurianual e os balanços quadrimestrais da Prefeitura e do SUS são conduzidas pelas comissões de Economia, Finanças e Fiscalização e de Saúde e Bem-Estar Social respectivamente, sem necessidade de nova aprovação, pois estão previstas em lei.

*Matéria elaborada pela estudante de Jornalismo Mariana Aquino*, especial para a CMC.
Supervisão do estágio: Pedritta Marihá Garcia.

Edição: Pedritta Marihá Garcia. 
Revisão: Ricardo Marques

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